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Análise de "Mariana e Chamilly" de Adília Lopes

Mariana e Chamilly

Quando partires
se partires
terei saudades
e quado ficares
se ficares
terei saudades

Terei
sempre saudades
e gosto assim


Adília Lopes, in 'Caderno'.

O poema foi publicado no livro Caderno, de 2007, e possui intertextualidade com outras obras da própria Adília Lopes, como O Marquês de Chamilly (1987) e O Regresso de Chamilly (2000), que apresentam o mesmo marquês do título, e com a obra As Cartas Portuguesas (1669).
As Cartas Portuguesas é um livro que inicialmente foi publicado em francês e possui cinco cartas de amor escritas por uma freira, Soror Mariana Alcoforado, para seu amado, o marquês de Chamilly. As cartas mostram um grande amor por parte de Mariana que sofre com a distância do amado, no decorrer das cartas, o tom de esperança vai se perdendo e ela pede por respostas maiores e mais afetuosas do marquês que não a correspondia igualmente.
O poema de Adília apresenta no título as mesmas personagens de As Cartas Portuguesas e o sentimento da saudade é o tema principal, mostrando o sentimento da freira Mariana Alcoforado para com o marquês. No entanto, a autora reinterpreta o sentimento da freira, não o apresenta como uma sensação ruim. Ela mostra a saudade com um sentimento que deve ser sentido e que não depende da presença ou ausência da outra pessoa.
O poema é constituído por duas estrofes, uma com seis versos e outra com três. Apresenta uma repetição da palavra "saudades" e também de estruturas sintáticas. Os verbos são conjugados em primeira e segunda pessoa do singular, estabelecendo, assim, uma conexão entre o eu-lírico e a pessoa amada a quem se dirige. As rimas são formadas pela repetição das mesmas palavras ao final dos versos partires/partires, ficares/ficares, saudades/saudades/saudades, quase todos os versos possuem terminação em -es, com exceção do verso final. E não há um esquema métrico, os versos não possuem o mesmo número de sílabas poéticas.


- Texto por Letícia Oliveira.

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